A PROTETORA
Esta é a história de Alexandra. Vive na Escócia desde que nasceu. Logo, há vinte e oito anos que é uma das herdeiras da herdade que está na sua família há gerações. A herdade ficava junto a uma floresta.
Alexandra é inteligente, culta, interesssada, amiga, simpática mas também protetora como uma loba que protege as suas crias. As suas crias eram dois rapazes que toma conta desde os vinte e um anos, ajudando a sua avó como ama. Não tem filhos nem é casada. Mas os dois rapazinhos já a satisfazem por completo.
Recentemente, teve discussões com a sua família por não querer depender de marido para se sustentar. Sentia-se bem, feliz e dizia que não precisava de um homem para sentir-se completa.
Uma noite, Alexandra deitava os seus rapazes e ouviu barulhos vindos do interior da casa. Fechou a porta do quarto e seguiu o ruído. Vinha da cozinha.
Ouviu mexidas e remexidas, coisas a cair e apressou-se com a barulheira que ouvira. Ao entrar, levou a mão à boca para a impedir de gritar e alguém a ouvisse. Pior, quem estava à sua frente desse por si.
A criatura à sua frente parou de mexer na despensa, sentindo que não estava sozinha. Olhou de relance e acalmou a sua respiração que estava ofegante. O seu olhar negro, mergulhou no olhar verde da mulher e largou o que tinha. Dirigiu-se a ela, silenciosamente e Alexandra abaixou-se.
A uma cria de lobo. De pêlo cinzento, olhos negros e uma calma que não era vulgar. Olharam-se nos olhos e Alexandra reparou no sangue que tinha no pescoço. Estava ferido.
Ambos ouviram passos vindo da sala. Era o capataz da herdade. Vinha com uma espingarda e Adolfo apontou de imediato ao animal, Alexandra colocou-se à frente e não o deixou avançar.
- Saia da frente, menina! Esse monstro pode atacar-vos!
- Não! Não lhe fazes mal enquanto eu estiver aqui! Está tudo bem, Adolfo! Deixa-o estar.
Com medo, a cria começou andar para trás e Adolfo aproveitou para disparar e Alexandra apontou a arma para cima, fundindo uma lâmpada, tentando-o defender.
A cria fugiu pelas traseiras da casa tal como entrou e Alexandra seguiu-a. Adolfo achou-a louca e voltou para o seu quarto.
Nos arbustos, a cria estava escondida e a mulher procurava-o em silêncio. Entre a vegatação sentiu uma respiração perto e virou-se para trás devagar. Viu-a de novo. Sorriu-lhe amigavelmente e aproximou-se com receio para ver o ferimento no pescoço. Esta uivou de dor e Alexandre e Marco levantaram-se de imediato. Foram até à janela e viram a ama com aquela criatura. Correram até às traseiras e viram o cenário à sua frente. Admirados, sussurraram pelo seu nome e esta disse que podiam-se aproximar devagar até eles.
As crianças fizeram-lhe festas e perguntaram-lhe onde estaria a mãe da cria. Esta olhou-lhe e sentiu um olhar com dor e pelos ferimentos, julgou que tivesse morrido e esta conseguiu escapar de algum ataque da alcateia e deu de caras com a sua herdade. Daí o ataque à despensa. Alexandra riu-se ao achar-se louca mas queria ficar com aquela cria. As crianças concordaram com a loucura.
Alexandre, o rapaz mais velho, lembrou-lhes:
- Mas é um animal selvagem e daqui a uns anos... Não sei... Não se virá contra nós? - perguntou a medo.
- Daqui a uns tempos deixamo-lo ir, para seguir o seu caminho. Agora só precisa de amor. - sorriu-lhe.
- Mas acho que não se vai esquecer de nós! - interveio Marco. - As pessoas não esquecem quem gosta delas e as trata bem. Acredito que isso também aconteça com os animais, sejam selvagens ou domésticos.
Os três sorriram e ficaram com o animal até acharem que ele deveria voltar ao seu habitat. Defendeu-o de Adolfo e defenderia-o de quem mais aparecesse. Era determinada e protetora.
Ao regressarem a casa, Alexandra sorria ao pensar que teria o nome certo já que este significa "protetora do homem" ou "defensora da humanidade". Orgulhosa dos seus e de quem defendia. Humanos ou não. Era amor que sentia e só isso queria dar e receber. E não precisava de um homem para tomar contas das crias. Sempre o provou.